domingo, 24 de janeiro de 2010

Paco Bandeira e a sua viola

Num dos nossos primeiros comentários, aflorámos já um lado menos conhecido do sobejamente conhecido Paco Bandeira, realçando a sua versatilidade inesperada ao mesmo que a confrontava-mos com constância do mesmo género musical (musica ligeira) que optou durante grande parte da sua carreira. Hoje, apresentamos aos nossos leitores um disco de todo inesperado e totalmente desconhecido da grande maioria dos portugueses e até dos fans do artista em particular. Trata-se de um dos mais antigos discos de Paco Bandeira (senão o primeiro?), gravado para a etiqueta Rapsódia, e cujo ano, a julgar pela referência deste E.P., se situará com elevado grau de probabilidade em 1967, ou seja há 43 anos atrás.
A particularidade deste disco, para além de apresentar um jovem Paco Bandeira acompanhado exclusivamente à viola, tal qual Dylan, num registo folk music, é a de Paco Bandeira se nos apresentar cantando em português do Brasil. Temos tentado esclarecer junto de alguns entendidos pela música a razão que levou Paco Bandeira a gravar este disco com 4 temas exclusivamente cantados em português do Brasil, embora arrisquemos que a razão principal prende-se com a temática do disco, manifestamente relacionada com a emigração e as saudades do pais de origem, numa relação que vislumbramos estar intimamente contextualizada entre o povo português e o povo brasileiro, que Paco Bandeira encarna tão veemente.
Despido de arranjos orquestrais que sempre o acompanharam nas suas gravações, Paco Bandeira neste disco, recorre ao que mais de genuíno há num cantor: a sua voz, apenas acompanhada, como já se referiu, pela sua viola, razão pela qual o disco se chama precisamente “Paco Bandeira e a sua viola”.
Para além da capa que apresentamos hoje, conhecemos uma outra versão deste disco, da mesma editora, com os mesmos registos musicais mas com uma capa radicalmente diferente.

Clique no Play para ouvir um excerto do disco

"Paco Bandeira e sua Viola"
Lado A1- Canção ao Porto (Paco Bandeira)
Lado A2- Sonho Curioso (Paco Bandeira)
Lado B1- O Emigrante (Paco Bandeira)
Lado B2- Dália (Paco Bandeira)
Rapsódia EPF 5.339

domingo, 17 de janeiro de 2010

Germano Rocha - Floresce a Vida

Hoje retiramos do baú do esquecimento a figura de Germano Rocha, mais um ilustre emigrado, perfeito desconhecido nos tempos de hoje. De seu nome completo Germano Pereira da Rocha, nasceu na terra do folclore, em Santa Marta do Portuzelo, em 1937, tendo sido naquela colectividade que cantou pela primeira vez com a tenra idade de 8 anos. Antes de começar a cantar profissionalmente, encontrava-se empregado no Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa. Foi nessa cidade que teve contacto pela primeira vez com o fado, tendo sido enquanto cumpria o serviço militar, em 1958, que cantou no Restaurante Típico Luso e conseguido a sua carteira profissional, facto que lhe permitiu adquirir um passaporte e partir para França. Aliás, foi nesse país que Germano Rocha, passou a ser verdadeiramente um músico profissional, quando, em Paris é descoberto por um célebre musicógrafo francês, Jean Witold, que lhe abriu as portas para gravar, em pouco tempo uma série de discos em formato Long Play, em língua portuguesa para a Polydor e para a Barcllay, com fados e baladas portuguesas, nomeadamente fados de Coimbra. Depois dos discos seguiram-se as actuações, tanto em televisões como espectáculos, tendo corrido o mundo, até se radicar, de forma aparentemente definitiva no Canadá, onde hoje é membro da «Guilde des Musiciens du Québec», da Sociedade dos Autores Compositores do Canadá e membro Honorífico da Confraria dos Enologistas do Québec.
Após contacto com o artista e após uma pesquisa na Internet, recolhemos também, do próprio site de Germano Rocha, este parágrafo que transcrevemos: “Instalado na citade de Québec desde há alguns anos, onde possuiu um restaurante típico, Germano Rocha, não abandonou a ideia de ser divulgado em Portugal. Canadá, já o homenageou, escolhendo uma das suas canções escrita em francês, para ser arquivada no Museu do Homem da cidade de Ottawa na selecção intitulada «Many are strong among the Strangers».”

Germano Rocha, em 1965.
Curiosamente, em 1965, numa entrevista para um revista de actualidades portuguesa, Germano Rocha, dizia peremptóriamente que jamais cantaria em francês por entender que as suas canções se encontravam ao serviço da música portuguesa. Ora,o que é certo é que, até ao momento o estado português ainda não se lembrou de reconhecer institucionalmente o trabalho de divulgação da nossa cultura levado a cabo por Germano Rocha ao longo de mais de 5 décadas,o que de certa forma não nos espanta, atendendo ao facto de outros artistas portugueses (bem mais conhecidos que Germano Rocha) terem tido também papel de destaque no estrangeiro e hoje encontrarem-se perfeitamente esquecidos.
Cabe-nos a nós tentar inverter a situação e divulgar ainda que de forma bem modesta a excelente qualidade das canções de Germano Rocha editadas em Portugal sob a chancela da Alvorada. Não se tratam de meras canções saudosistas ou canções desprovidas de sentido poético, bem pelo contrário. Tratam-se de canções com arranjos instrumentais de grande preponderância, criando-se assim um tapete sonoro que reforça a temática adjacente a cada um dos poemas orquestralmente musicados pelo maestro Victor Campos. Curiosamente, Germano Rocha na série de EP's e singles que gravou em Portugal socorreu-se de arranjos orquestrais em detrimento do acompanhamento das violas e guitarras portuguesas, facto que deu um outro "balanço" rítmico à sua voz e uma certa emotividade em determinadas canções. Assim, destacamos as os temas “Altos Fundos”, escritos sobre refrão popular, e “Canção de Vitória” , para ilustrarmos da melhor forma possível a elevada qualidade de produção deste disco
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Clique no play para ouvir um excerto dos temas
Germano Rocha - "Floresce a Vida"
Alvorada : EP-S-60-1517
Lado A 1. Floresce a Vida (Germano Rocha)
Lado A 2. Altos Fundos (Germano Rocha/Popular)
Lado B 1. Canção de Vitória (Germano Rocha/ João de Castro Osório)
Lado B2 . Beijos que eu te dei (Germano Rocha/Manuel Collares Pereira)

domingo, 10 de janeiro de 2010

O mar é largo

Em 1955 David Bartholomew and Pearl King escreveram a canção “I hear you knocking”, gravada pela primeira vez por Smiley Lewis, que de imediato a transformou num enorme êxito, tendo chegado a número #2 das tabelas de Rhythm and Blues, logo no ano da sua gravação. Tal canção foi posteriormente versionada por dezenas de artistas americanos, em vários estilos e ritmos, sendo talvez a sua versão mais conhecida a de Dave Edmunds de 1970. Contudo, também em Portugal, um cantor de nome António Rios, cantou essa canção na versão de Carlos Portugal, cuja letra foi radicalmente transformada para o título de “O mar é largo”.
Gravada em 1972, fazendo parte do single “Teu corpo em minha mão”, “O Mar é largo” não se limita apenas ser uma canção sobre a imensidão do mar. É também, um tema com uma mensagem bem direccionada para todos que encontravam no outro lado do mar uma fuga da realidade portuguesa da época. Versos como os seguintes ilustram bem esse facto: "Se todo o teu passado foi navegar/ se a vida deste lado não tem lugar/ o mar é largo/ tem a onde ir dar/ O mar é largo/ não queiras ficar”, conduzindo o pensamento do ouvinte para outras geografias, nomeadamente o outro lado do Atlântico, onde era possível evitar, por exemplo, entre outras situações, a guerra colonial. “O mar é largo” é pois uma canção de esperança e um convite à fuga, através do apelo rítmico do blues, em manifesto contraste com os outros ritmos que se ouviam em Portugal. De destacar nesta canção é ainda o sentido poético e irónico que Carlos Portugal (outro nome cuja música urge descobrir futuramente) introduz nesta versão de “I hear you knocking”, de modo que esta letra pode ser interpretada, por um lado, de uma forma mais contestatária e por outro lado como um belo poema sobre as possibilidades e a beleza que o mar nos oferece.
Sobre António Rios pouca ou nenhuma informação possuímos. Sabemos que, para além deste single, tem pelo menos mais dois singles lançados pela etiqueta Alvorada. Não possuímos qualquer informação adicional sobre a sua biografia e o seu percurso artístico. Contudo, a falta de informação sobre o artista jamais nos poderia impedir de divulgar esta extraordinária interpretação vocal, na qual a ironia da letra é assimilada em pleno pela voz de António Rios.


Clique no Play para ouvir "O mar é largo"

António Rios (Alvorada N-97-62)
Lado A: Teu corpo em minha mão ("Snow bird") – Gene MacLellan – Versão: Carlos Portugal
Lado B :O mar é largo - (“I hear you knocking”) King : versão . Carlos Portugal

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Mensagem de D. Maria Pia a todos os portugueses

Iniciamos o novo ano de 2010, com uma mensagem dirigida a todos os portugueses, que poderá ser estranhada por quem oiça o que hoje divulgamos. Para alguns, que acreditamos ser em muito poucos, o tema de hoje não será por certo desconhecido mas possivelmente, para a grande maioria, o será totalmente. Atrevemo-nos mesmo a dizer que a serem dados como provados os factos que hoje documentamos, a História presente teria que ser totalmente reescrita, nomeadamente o percurso da história da monarquia portuguesa no século XX, com consequências directas na dúbia questão da sucessão ao trono - caso tivéssemos regressado a uma monarquia em Portugal, fosse ela constitucional ou absoluta
Não querendo ser donos da verdade (pois os factos que hoje iremos relatar, para além de só revelaram uma face de uma estranha moeda, passaram-se todos eles há mais de um século, altura em que, infelizmente, ainda não existia a obrigação de registar todos os nascimentos verificados em Portugal) pretendemos antes transmitir os factos que durante mais de 50 anos foram abafados pelo ramo miguelista (do qual descende directamente D. Duarte Pio, proprietário da Casa de Bragança) e pelo Regime do Estado Novo.
Falamos da S.A.R. Senhora D. Maria Pia de Saxe-Coburgo, duquesa de Bragança, nascida a 13 de Março de 1907, na Avenida da Liberdade, fruto de uma alegada relação extra-matrimonial do Rei D. Carlos com a senhora Maria Amélia Laredó, pelo que, a ser assim, como efectivamente parece ser, o Rei D. Carlos à data do regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, tinha então 3 filhos: D. Luís Filipe (príncipe herdeiro), D. Manuel (futuro rei, único sobrevivente do atentado) e D. Maria Pia, a quem, conforme documenta a história (pouco divulgada), o rei D. Carlos concedeu uma mercê no dia 14 de Março de 1907, na qual reconhecia D. Maria Pia como sua filha um dia após o seu nascimento, Dado o interesse de tal escrito, transcrevemos na integra a mercê do Rei. D. Carlos:

«Eu, El-Rei, faço saber aos que a presente carta virem, que atendendo às circunstâncias e qualidades da mui nobre senhora Dona Amélia de Laredó, e querendo dar-lhe o testemunho autêntico da minha real consideração, reconheço por minha muito amada filha a criança a quem dera à luz a mencionada Senhora na freguesia do Sagrado Coração de Jesus de Lisboa, a treze de Março de mil novecentos e sete.Sendo bem-visto, considerado e examinado por Mim tudo o que fica acima inscrito, autorizo e peço às autoridades eclesiásticas ponham-me as águas baptismais e os nomes de Maria e Pia, a fim de poder chamar-se com o meu nome d'ora em diante d'este nome com as honras, prerrogativas, proeminências, obrigações e vantagens dos Infantes da Casa de Bragança de Portugal. Em testemunho e firmeza do sobredito fica a presente carta por Mim assinada.Com selo grande das minhas armas. Dada no Paço das Necessidades, a catorze de Março de 1907. -Carlos Primeiro, El-Rei»



Ora, fácil será de perceber, portanto, que a consequência de tal reconhecimento implicou necessariamente que em abstracto D. Maria Pia, pudesse ser, caso as circunstâncias o permitissem, a legítima sucessora ao trono português, por ser filha de Rei D. Carlos! Questão essa que não se colocara em 1908, quando D. Manuel assumiu precocemente o trono, mas sim quando em 1932 D. Manuel faleceu , sem deixar descendentes directos. Com efeito, imediatamente se colocou a questão: Quem sucederia na linha directa ao trono?
Teoricamente, seria D. Maria Pia; primeiro, por estar viva e ser descendente da linha liberal de D. Pedro e, segundo, porque a Constituição Monárquica de 1838 consagrou a exclusão do Ramo Miguelista à linha sucessória real. Por outro lado, a lei da Proscrição de 15 de Outubro de 1910, determinou proscrita para sempre a família de Bragança, no que tocava ao ramo liberalista (D. Carlos) ao mesmo tempo que mantinha igualmente a proscrição do ramo Miguelista. Sucede porém, que em 1950 o Secretário-geral do Alto Conselho do Estado da República de Portugal, em 1950, anulou a pena de exclusão do Ramo Miguelista à linha sucessória real, considerando-a mesmo a única e legitima para esse hipotético fim. Ou seja, de um dia para o outro, ter-se-á dado o qui pro quo que possibilita que D. Duarte Pio se intitule legitimo proprietário da casa de Bragança. Mas afinal quem será actualmente o legítimo herdeiro do trono português?
Da nossa parte, através de disco de hoje, esperamos dar um contributo ou pelo menos lançar mais uma acha para a fogueira, uma vez que a interprete deste disco é a própria D. Maria Pia, também ela auto intitulada Duquesa de Bragança que no final do ano de 1966, dirige a todos os portugueses uma mensagem de Natal... e não só. Neste disco, Dona Maria Pia, aproveita para reiterar a sua legitimidade na linha de sucessão, ao mesmo tempo tentando esclarecer os portugueses sobre as alegadas calúnias e tentativas de falsos pretendentes (numa clara alusão a D. Duarte Nuno, pai de D. Duarte Pio).


Na contrapa do disco, a Princesa Maria da Glória Cristina Amélia, filha de D. Maria Pia

Este disco, trata-se, sem dúvida alguma de um testemunho importantíssimo para todos aqueles que queiram aprofundar um pouco mais os seus conhecimentos sobre a questão monárquica e das divergências em torno dela. Com efeito, por um lado temos D. Maria Pia, à data dos factos filha ilegítima (e como tal não sucessível, segundo a lei de 1867 que vigorou até 1966) e por outro lado, D. Duarte Pio, descendente directo de D. Miguel, filho de D. João VI, rei de Portugal.
D. Maria Pia de Saxe-Coburgo, faleceu a 6 de Maio de 1995, em Verona, não sem antes ter abdicado da sucessão a favor de Rosario Poidimani, em detrimento dos seus descendentes directos (filhas e netos, os quais renunciaram também eles à sucessão).

Juntamente com o disco que recebemos, encontramos no seu interior, um interessante cartão de visita com as seguintes inscrições “S.A.R. A SENHORA DONA MARIA PIA DE SAXE-COBURGO DUQUESA DE BRAGANÇA” e com a menção escrita a esferógráfica “CumprimentaMadrid : Apdº de Correos 19148”.


A mensagem de S.A.R. A Senhora Dona Maria Pia, Duquesa de Bragança, foi gravada em Espanha, em 1966, distribuída pela Iberofon, S.A., tratando-se de um disco de oferta (com consequente venda proibida). Não querendo especular, não nos surpreenderia de todo que o cartão de visita que acompanhava o disco, tenha sido assinado pela própria D. Maria Pia, mas devido à escassez de mais informações, remetemo-nos a deixar apenas a nota da sua existência, até que alguém nos esclareça sobre a sua proveniência.


Clique no Play para ouvir parte da mensagem de D. Maria Pia aos portugueses
Nota: Muitas das informações recolhidas foram retiradas do site http://www.theroyalhouseofportugal.org/dmaria.htm, não querendo os autores deste blogue tomar partido de qualquer questão.