domingo, 28 de fevereiro de 2010

Zé Duarte - Baleia, Baleia


Escolhemos para hoje uma balada de Zé Duarte, mais um cantor cujos dados biográficos e percurso musical é desconhecido da grande maioria dos portugueses, Tal como tentar dar um tiro no escuro pode ter resultados indesejáveis também divagar sobre uma figura que nos é desconhecida pode desaguar em conclusões erróneas, pelo que nos centraremos estritamente nas emoções que transvazam do tema “Baleia, Baleia”, uma interessante canção sobre a vida dos pescadores baleeiros e sobre uma temática que, infelizmente, nos últimos dias tem sido bastante actual. Falamos dos constantes perigos e armadilhas que rodeiam todos os marinheiros e pescadores, os quais arriscam a sua vida no mar, nas agitadas águas em que muitas vezes navegam. Assim tem sido assim nos últimos dias, devido aos enormes temporais que tem assolado o país, que tiveram consequências não só em terra, como também no mar onde já desapareceram alguns pescadores devido à força das tempestades marítimas. “Baleia, Baleia”, retrata assim, com algum romantismo, não só a luta de quem vai como também a angústia de quem fica no areal à espera dos que partiram na incerteza do voltar.

Socorrendo-se de arranjos musicais simples e directos, na mesma linha dos heróis retratados nesta canção, Zé Duarte, músico açoreano nascido na ilha do Pico e emigrado nos E.U.A. desde 1984, deixa a seu cargo não só a letra e música, como também a orquestração. Da análise do disco, conjugado com o facto de nem na capa nem na contracapa do mesmo termos qualquer referência à editora e ano de edição, julgamos tratar-se de uma edição de autor de tiragem bastante limitada. Apesar do aparente desconhecimento da figura de Zé Duarte, uma pequena biografia sua é apresentada pelo próprio na sua página oficial na internet http://www.zeduarte.com/


Clique no play para ouvir um excerto da canção

Zé Duarte
Lado A - Baleia, Baleia
Lado B - Porque partes emigrante
Letra e Música : Zé Duarte
Ref : Z-100

domingo, 21 de fevereiro de 2010

CHEGOU A YENKA ! TEREZITA GALARZA


Em 1965, o duo Jonnhy & Charley Kurt lançou na Europa um disco com uma canção que se transformou na canção desse Verão. Tal canção chamava-se “La Yenka” e tinha a particularidade de ser cantada acompanhada por uma engraçada coreografia, que rapidamente se transmutou numa dança recorrente nos meados da década de 60 em toda a Europa.
Contrariamente ao que acontece hoje em dia, em que quase todas as composições de grande sucesso são coreografias disfarçadas de canções, promovidas por grandes produções videográficas, nos anos 60 eram poucas as bandas que juntamente com o lançamento de uma determinada canção as faziam acompanhar por um videoclip. A Europa continental não fugia a essa regra e tal como assim sucedeu em Portugal, face à ausência de um videoclip oficial, a contracapa do disco trazia impressa ilustrações que ensinavam os ouvintes a dançar a yenka seguindo cinco passos obrigatórios: saltando para a esquerda duas vezes, saltando para a direita duas vezes, um salto à frente e um salto atrás, culminando com três saltos à frente.


A yenka apareceu em Portugal numa época em que começavam a nascer em Portugal as primeiras bandas pop rock, embora ainda numa fase muito embrionária e tímida, contrariamente ao “yé yé” que era já moda e fenómeno musical bastante divulgado, nomeadamente através dos inúmeros festivais e concursos de Yé Yé que proliferavam um pouco por todo o país. Liricamente inofensivas para o regime político de então, muitas dessas canções yé yé foram autênticos sucessos em Portugal, fossem elas composições originais ou simplesmente versões de composições estrangeiras. Também assim o é a versão portuguesa de “A Yenka”, interpretada por Terezita Galarza, com letra adaptada para português de Hernâni Correia e com arranjos de Shegundo Galarza (que mais podia ser ?), uma canção interpretada pela voz de uma rapariga ainda menina que, contudo, consegue convidar com voz convincente todos os ouvintes (principalmente os mais novos) a juntar-se a ela e a dançar a yenka, segundo as instruções que constavam na contracapa do disco.
Desconhecemos o parentesco de Terezita Galarza com Shegundo Galarza, embora não hesitemos em afiançar que, seguramente, seriam familiares bem próximos devido às parecenças faciais destas duas figuras. Igualmente desconhecemos o percurso musical de Terezita Galarza, se é que o mesmo alguma vez existiu, ou se este disco se tratou de uma mera aventura musical da família Galarza.
Os restantes temas do disco são um reflexo das novas tendências da música que Portugal começava a assimilar a par do fado e que, em certa medida, se mantiveram quase que estanques até finais da década de 60, altura em que, como veremos mais para a frente, o verdadeiro movimento de rock de identidade própria portuguesa começa a emergir, renegando para segundo plano o (tão injustamente) apelidado de nacional-cançonetismo.


Clique no Play para ouvir um excerto do disco

Terezita Galarza acompanhada pelo Conjunto de Shegundo Galarza

1. Chegou a Yenka (Shegundo Galarza – Hernâni Correia)
2. Quero ser alguém (Shegundo Galarza – Hernâni Correia)
3. Chica yé yé (António Algueró – António Guijarro)
4. Olha o palhaço (José Santos Rosa – Hernâni Correia)
Alvorada 60772 (E.P.).

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Portugal - Fado Tropical


Novamente invertemos o rumo do Bairro do Vinil, ao apresentarmos hoje uma composição pouco conhecida de um artista mundialmente famoso. Se é verdade que quando iniciámos este projecto nos propusemos a abordar artistas completamente desconhecidos da música (popular) portuguesa, não deixa de ser menos verdade que também deixámos em aberto a possibilidade de, aos poucos, irmos apresentando temas completamente desconhecidos de artistas portugueses já consagrados. Ao escolhermos para hoje um tema de Georges Moustaki, aliás “Giuseppe Mustacchi” corremos o risco de o leitor eventualmente pensar que o nosso espaço na internet está completamente desvirtuado pois, para além de Moustaki não ser português, é um artista consagrado há quase 6 décadas e conhecido mundialmente (embora, sejamos honestos, se hoje perguntarmos a alguém se conhece tão ilustre figura, a resposta provavelmente será negativa).
Contudo, a escolha de Moustaki não foi feita ao acaso pois este cantor francês (nascido no Egipto, filho de pais gregos) para além de ser um grande amante da cultura e da música de expressão portuguesa (principalmente da musica brasileira) durante muitos anos transportou para a sua música grandes causas, como a da libertação dos povos sujeitos às opressões de regimes ditatoriais e a “proclamação da boa hora permanente” (tal como canta numa das suas canções mais famosas). Não estranhou por isso que a Revolução de Abril, conhecida por Revolução dos Cravos, não lhe fosse indiferente, tendo lançado em 1974 um single dedicado à revolução de 25 de Abril de 1974, precisamente com o título de “Portugal (Fado Tropical)”.
Convém referir, antes de passarmos à musica propriamente dita, que Georges Moustaki desde o início dos anos 70, fazia constantes viagens ao Brasil, onde travou grandes amizades, nomeadamente com o escritor Jorge Amado, e com alguns nomes da canção brasileira, entre os quais Gilberto Gil, Elis Regina, Vinicius de Moraes ou Chico Buarque da Holanda, entre outros. Aliás, foi a partir de uma canção deste último “Fado Tropical” (canção com declamação de poeta de Carlos do Carmo), que Moustaki transformou num enorme êxito a canção “Portugal“, num registo bem ao seu estilo, de arranjos perfecionistas, embora em segundo plano a favor do intimismo que a sua voz nos oferece.
Depois de ter colaborado e de ter escrito para ínumeros ícones da canção francesa, entre os quais Edith Piaf, Henri Salvador ou Yves Montand, depois de ter visto as suas canções versionadas por outros tantos (sendo o mais recorrente o cantor Serge Reggiani) e de ter contado com a ajuda do grande Astor Piazzolla em alguns dos arranjos das suas canções, Moustaki permanece ainda, aos 76 anos em perfeita actividade, tendo visitado o nosso país em 2008, onde ofereceu dois concertos ao público português e no qual, mais uma vez, voltou a cantar em português alguns versos da canção “Portugal”, tal como antes o fizera em disco.
Para além de todo o interesse da letra da canção que transcrevemos, escolhemos também hoje esta canção pelo facto de Georges Moustaki ter cantado meia dúzia de versos da sua letra em português (embora manifestamente abrasileirado, devido às suas longas estadias no Brasil, uma das suas segundas pátrias) e também pela elucidativa capa do disco, representando um cravo vermelho, com todo o simbolismo a ele associado.
Moustaki não foi o único músico estrangeiro a dedicar canções a Portugal e, neste caso concreto, à revolução portuguesa. Por hoje apresentamos este artista, ficando prometido que, mais tarde ou mais cedo, nova abordagem sobre este tipo de registos musicais será por nós feita. Para finalizar, não podemos deixar de salientar o registo do lado B deste single, simplesmente soberbo, com uma das mais belas canções de Moustaki : "Chanson pour elle (elle ne fait pas l' amour, elle ame)".


Oh muse ma complice
Petite sœur d'exil
Tu as les cicatrices
D'un 21 avril

Mais ne sois pas sévère
Pour ceux qui t'ont déçue
De n'avoir rien pu faire
Ou de n'avoir jamais su

A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
A fleuri au Portugal

On crucifie l'Espagne
On torture au Chili
La guerre du Viêt-Nam
Continue dans l'oubli

Aux quatre coins du monde
Des frères ennemis
S'expliquent par les bombes
Par la fureur et le bruit

A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
À fleuri au Portugal

Pour tous les camarades
Pourchassés dans les villes
Enfermés dans les stades
Déportés dans les îles

Oh muse ma compagne
Ne vois-tu rien venir
Je vois comme une flamme
Qui éclaire l'avenir

A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
À fleuri au Portugal

Débouche une bouteille
Prends ton accordéon
Que de bouche à oreille
S'envole ta chanson

Car enfin le soleil
Réchauffe les pétales
De mille fleurs vermeilles
En avril au Portugal

Et cette fleur nouvelle
Qui fleurit au Portugal
C'est peut-être la fin
D'un empire colonial


Clique no Play para ouvir um excerto da canção